O foco no curto prazo é um problema para a sustentabilidade
Este texto é parte de uma série sobre Sustentabilidade e Capitalismo.
Se eu te pedisse para listar as cinco primeiras preocupações que vêm à sua mente neste momento, quais seriam elas? O que ocupa, atualmente, o centro da atenção de cada um nós?
Todo indivíduo no mundo enfrenta uma série de pressões e problemas que requerem sua atenção e ação. Uma pessoa pode, por exemplo, gastar grande parte do seu tempo tentando conquistar a comida de amanhã para sua família. Outra pode estar preocupada com o desempenho geral da sua empresa, se haverá lucros neste ano e no próximo. Pode-se, ainda, estar preocupado com a situação de seu país, no que se refere à saúde pública e à educação, por exemplo.
As preocupações pessoais mais urgentes vão, sem dúvida, variar bastante de pessoa para pessoa. É possível, contudo, extrair um comportamento geral das mesmas. A imagem a seguir representa um mapa das preocupações humanas, onde elas se localizam no que concerne ao tempo e ao espaço a que se referem.
As preocupações da maioria das pessoas concentram-se na porção inferior esquerda do gráfico, representando problemas de natureza imediata e bastante limitada no que se refere ao espaço que abrangem. Em outras palavras, a maioria das pessoas estão preocupadas com questões que afetam especificamente suas famílias e amigos mais próximos durante um período curto de tempo. Um grupo menor foca sua atenção em questões de mais longo prazo e que afetam um espaço mais abrangente, talvez sua cidade ou país. Poucos, contudo, olham para o futuro de longuíssimo prazo e se preocupam com questões globais e abrangentes.
A maior parte das pessoas precisa ter resolvido seus problemas mais próximos (tanto no espaço quanto no tempo) para depois permitirem-se debruçar sobre temas globais e de longo prazo. Esse padrão de comportamento das pessoas, embora totalmente compreensível e natural, pode representar um risco a elas mesmas.
“Podem existir decepções e perigos ao se limitar a perspectiva de uma pessoa a uma área muito pequena. Há muitos exemplos de pessoas que lutam com todas as suas forças para solucionar algum problema imediato e local, só para ter seus esforços derrotados por incidentes que ocorrem em um contexto mais abrangente. Campos agrícolas cuidadosamente mantidos por um fazendeiro podem ser destruídos por uma guerra internacional. Políticas e leis municipais podem ser substituídas por outras nacionais.” (MEADOWS, 1972).
É justamente esse comportamento que, a meu ver, vem-se reproduzindo no campo das ciências econômicas. A atenção e a ação de economistas e policy-makers ao redor do mundo recaem, de maneira dominante, sobre preocupações de curto prazo e de abrangência relativamente limitada. Seja o comportamento dos preços, a taxa de desemprego, o crescimento da economia ou até mesmo o desenvolvimento sócio-econômico de um país, estes e outros temas frequentemente abordados caracterizam-se por serem de relativo curto prazo (se pensarmos a partir de uma perspectiva global) e de abrangência mais ou menos local.
A negligência com problemas de longo prazo
A questão ambiental e sua relação com a economia é um exemplo de preocupação que não ocupa a lista de prioridades de grande parte da população mundial, principalmente por não representar, para a maioria, questões essencialmente imediatas. Por esse motivo não é parte integrante das principais teorias econômicas, ortodoxas ou heterodoxas.
Foi devido aos recentes problemas ambientais — o buraco na camada de ozônio, o aquecimento global, a poluição de rios etc. — que a temática ambiental passou a assumir uma posição um pouco menos negligenciada.
As últimas quatro décadas foram marcadas, em parte, por uma crescente preocupação com a questão ambiental, embora ainda abaixo do que alguns acreditariam como ideal. Mostrou-se cada vez mais frequente a veiculação de notícias sobre supostas consequências do aumento da temperatura média do planeta — derretimento das calotas polares, aumento do nível do mar, temperaturas extremas tornando-se padrão, efeitos negativos sobre a produção de alimentos etc. Problemas decorrentes dos mais diversos tipos de poluição também mostraram-se frequentes nas manchetes de grandes e pequenos meios de comunicação ao redor do mundo.
A temática da sustentabilidade, por sua vez, também tem sido abordada com relativa frequência, acompanhando proximamente a ascensão da problemática ambiental. Crescimento sustentável, casas sustentáveis, tecnologias verdes e diversos outros termos são recorrentemente utilizados pela mídia e empresas em geral, demonstrando que a preocupação com o meio-ambiente, ao menos de forma retórica, está cada vez mais presente no dia-a-dia das pessoas.
Mas esse capitalismo sustentável é sustentável mesmo?
Qual o real significado dessa suposta sustentabilidade? Até que ponto a questão ambiental é relevante para a economia? Como o sistema capitalista relaciona-se com os problemas ambientais? Pode haver um crescimento sustentável dentro desse modo de produção? Quais os diagnósticos e as soluções para os problemas que se apresentam?
Estas são, entre muitas outras, perguntas que norteiam este trabalho. Trata-se de um estudo crítico do que já foi escrito sobre o tema, de modo a selecionar as grandes contribuições e separar o que se mostra válido ou não.
Pretende-se entender, a partir do que já foi escrito, até que ponto o capitalismo e o modo de vida que este incentiva e proporciona são viáveis, da perspectiva das capacidades físicas do planeta e também de um ângulo político e social.
O problema central está no paradigma de uma sociedade baseada na busca de crescimento econômico constante, alicerçada na utilização de recursos naturais não renováveis e na dependência de relações sociais criadoras de conflitos.
Nos próximos textos, diversas correntes teóricas relacionadas à questão do crescimento econômico e da sustentabilidade no capitalismo serão apresentadas. Também farei uma avaliação crítica do debate, apontando e discutindo possíveis falácias defendidas pelos autores assim como os pontos fortes e fracos da argumentação de cada um. Consensos e dissensos serão explicitados de forma a mapear organizadamente o debate e extrair o que há de melhor do mesmo.